Primavera nos dentes

“Entre os dentes, seguro a primavera”.

Twiggy, segurando o power flower com sua boca emburrada.

Uso esta frase na bio das redes sociais desde a pandemia. É tão bonita.

Hoje tem assumido outros sentidos quando ando pelas redondezas cheias de obras de prédios ridículos de altos, massacrando o centro, desmontando casas antigas para subrir 200 apartamentos de 17 metros quadrados no lugar.

Em algum momento de O conto da Aia, a June diz que uma grande saudade da vida antes de Gilead era dos passeios aos domingos com o marido, escolhendo casas que nunca poderiam comprar, num jogo de imaginar. Aqui, nos fins de domingo, passeamos para ver as casas que resistem no centro de Curitiba e que seguram a primavera entre dentes.

Literalmente a Primavera
Dente de leão, este resiste.
Escova de garrafa, esquisita mas bonita.
Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E, no centro da própria engrenagem
Inventa a contra mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem, já perdido, nunca desespera
E, envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes, segura a primavera

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